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Pode parecer algo novo
para alguns ouvidos desatentos, todavia é algo tão antigo quanto o “próprio” trabalho em sua forma
subordinada.
A humilhação de forma
repetida e de longa duração interfere, não apenas na vida laboral de uma
pessoa, mas também na vida privada. A Organização Internacional do Trabalho (OIT),
em levantamento recente, constatou que tal “prática” ocorre em vários países
desenvolvidos; a pesquisa apontou problemas de saúde mental relacionados as
condições de trabalho em países como Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Polônia
e Estados Unidos. As perspectivas são
sombrias para as duas próximas décadas, pois segundo a OIT e Organização
Mundial da Saúde, estas serão as décadas do ’mal estar na globalização",
onde predominará depressões, angustias e outros danos psíquicos, relacionados
com as novas políticas de gestão na organização de trabalho e que estão
vinculadas as políticas neoliberais.
Com isso, podemos notar
que não é um problema apenas regional, atinge o “globo”, pois, aonde houver grandes empresas,
com muitas posições hierárquicas autoritárias e assimétricas, haverá subordinação, e com ela poderá gerar
um caso ou outro de assédio moral.
Geralmente a vítima (as
vítimas) de assédio no trabalho é (são) “pega(s)
para Cristo”. São motivos de chacota,
de humilhações constantes, relativas ao
trabalho realizado ou não; podem ser hostilizadas, ridicularizadas, inferiorizadas
e desacreditadas diante de seus pares; fato esse que as levarão, gradativamente,
à desestabilização e à fragilização no ambiente, forçando-as a desistir do
emprego.
Uma pesquisa de
Mestrado, realizada e defendida na
PUC-SP em maio de 2000, pela Doutora em Psicologia Social Dra. Margarida Barreto, denominada “Uma
Jornada de Humilhações” foi um marco no Brasil para o aprofundamento do
tema; mais tarde, em agosto do mesmo
ano, foi publicado no Brasil o livro de
Marie France Hirigoyen "Harcèlement Moral: la violence perverse au
quotidien". O livro foi traduzido pela Editora Bertrand Brasil,
com o título “Assédio moral: a violência
perversa no cotidiano”.
Como podemos notar
acima, o ano de 2000 “introduziu”, consolidou de uma vez por todas, o tema no
Brasil como sendo de grande relevância no mundo laboral, que tem que ser
combatido e penalizado dentro e fora do ambiente de trabalho.
O estudo realizado pela
Dra. Margarida Barreto constatou como
cada sexo reage ao assédio no ambiente profissional e relacionou os sintomas.
Sintomas
|
Mulheres
|
Homens
|
Crises de
choro
|
100
|
-
|
Dores
generalizadas
|
80
|
80
|
Palpitações,
tremores
|
80
|
40
|
Sentimento
de inutilidade
|
72
|
40
|
Insônia ou
sonolência excessiva
|
69,6
|
63,6
|
Depressão
|
60
|
70
|
Diminuição
da libido
|
60
|
15
|
Sede de
vingança
|
50
|
100
|
Aumento da
pressão arterial
|
40
|
51,6
|
Dor de
cabeça
|
40
|
33,2
|
Distúrbios
digestivos
|
40
|
15
|
Tonturas
|
22,3
|
3,2
|
Idéia de
suicídio
|
16,2
|
100
|
Falta de
apetite
|
13,6
|
2,1
|
Falta de
ar
|
10
|
30
|
Passa a
beber
|
5
|
63
|
Tentativa
de suicídio
|
-
|
18,3
|
Na Europa o problema
parece ser ainda mais grave. O Reino
Unido consagrou-se campeão nessa prática
hostil, 16,3% dos trabalhadores são afetados. Na Suécia (que ficou em segundo
lugar – 10,2%) constatou-se, inclusive, que a maioria dos casos de suicídio
estão relacionados ao assédio moral, para tanto o País elaborou lei, em nível
federal, desde 1993, que coloca o tema como ação delituosa passível de
penalização.
Tanto o Tribunal
Superior do Trabalho quanto os organismos sindicais e a página oficial na
Internet (assediomoral.org) que
tratam do assunto indicam, ensinam o que
se poderá fazer ao ser vítima dessas humilhações constantes.
O que a vítima deve fazer?
ü
Resistir:
anotar com detalhes toda as humilhações sofridas (dia, mês, ano, hora, local ou
setor, nome do agressor, colegas que testemunharam, conteúdo da conversa e o
que mais você achar necessário).
ü
Dar
visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que
testemunharam o fato ou que já sofreram humilhações do agressor.
ü
Organizar. O
apoio é fundamental dentro e fora da empresa.
ü
Evitar
conversar com o agressor, sem testemunhas. Ir sempre com colega de trabalho ou
representante sindical.
ü
Exigir por
escrito, explicações do ato agressor e permanecer com cópia da carta enviada ao
D.P. ou R.H e da eventual resposta do agressor. Se possível mandar sua carta
registrada, por correio, guardando o recibo.
ü
Procurar seu
sindicato e relatar o acontecido para diretores e outras instancias como:
médicos ou advogados do sindicato assim como: Ministério Público, Justiça do
Trabalho, Comissão de Direitos Humanos e Conselho Regional de Medicina (ver Resolução do Conselho Federal de
Medicina n.1488/98 sobre saúde do trabalhador).
ü
Recorrer ao
Centro de Referencia em Saúde dos Trabalhadores e contar a humilhação sofrida
ao médico, assistente social ou psicólogo.
ü
Buscar apoio
junto a familiares, amigos e colegas, pois o afeto e a solidariedade são
fundamentais para recuperação da auto-estima, dignidade, identidade e
cidadania.
Acreditamos que, ao seguir os passos indicados pelos organismos acima,
possamos, num futuro, diminuir essa
prática tão desumana que não afeta somente à saúde da vítima, mas também as suas
relações familiares.; para tanto, os projetos de Lei existentes devem sair da
gaveta, transformar-se efetivamente em Lei que de fato puna o agressor e ampare o empregado.
Comentários de: Elane F. de Souza com fontes citadas abaixo
Fonte:
BARRETO, M. Uma jornada de humilhações. São Paulo: Fapesp; PUC, 2000.
Site: assediomoral.or
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